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Silêncios que gritam: O caminho de uma leitura às doenças da mente e da alma

“Anna O” (Bertha Pappenheim), o caso fundador da psicanálise 

Vamos entender como um texto pode nos levar a uma pesquisa, seja em livros físicos, digitais, no Google ou conversando com a inteligência artificial, e o quanto o resultado dessa pesquisa nos direciona a várias outras histórias diferentes.

Texto que li no Facebook:

Margaret Schilling

Em dezembro de 1978, Margaret Schilling, uma paciente silenciosa do Asilo de Athens, em Ohio, desapareceu sem deixar vestígios. Diagnosticada com doença mental, mas considerada gentil e retraída, ela foi vista pela última vez vagando por uma ala abandonada e isolada do hospital (uma ala que não era ocupada há anos). Como ela não retornou, a equipe presumiu que ela havia escapado ou se perdido em algum lugar do complexo labiríntico.

Apesar das buscas exaustivas, ela permaneceu desaparecida por semanas. Então, em meados de janeiro de 1979, um funcionário da manutenção se deparou com uma sala trancada enquanto limpava a ala abandonada. Ao abrir a porta, um odor fétido tomou conta do ar e, imóvel no canto da sala, estava o corpo de Margaret, já em avançado estado de decomposição. Mas o que chocou os trabalhadores mais do que a descoberta de seus restos mortais foi o que ela havia deixado para trás: uma mancha distinta, em forma humana, no chão de concreto. O formato era inconfundível, cabeça, braços, tronco, tudo estranhamente preservado como uma impressão final e fantasmagórica. Repetidas tentativas foram feitas para esfregar o chão, usando produtos químicos agressivos e até mesmo repintando, mas a mancha persistiu. Cientistas explicaram mais tarde que, em condições frias e úmidas, o corpo humano pode produzir uma substância cerosa chamada adipocere durante a decomposição. Essa substância pode se ligar quimicamente a materiais porosos como concreto, criando uma marca quase permanente. Conhecida hoje como "A Mancha de Margaret Schilling", tornou-se uma lenda local arrepiante. Alguns afirmam ouvir sussurros nos corredores vazios ou ver seu fantasma observando o local. Seja assombrada ou simplesmente assombrosa em seu simbolismo, a marca permanece uma testemunha silenciosa de uma vida esquecida e de uma morte profundamente perturbadora.

Diante disso, iniciei uma pesquisa sobre esse fato para saber de esse relato, da "paciente silenciosa", foi inspiração para o autor Alex Michaelides escrever o livro "A Paciente Silenciosa". 

A resposta é NÃO.

Mas a história de Margaret Schilling é verdadeira.

Porem, uma curiosidade puxa outra.

Então o que inspirou Alex Michaelides para escrever “A Paciente Silenciosa”?

Resposta:

1. Estudos em Psicoterapia – Ele estudou psicoterapia por três anos e trabalhou com adolescentes em uma unidade psiquiátrica. Isso despertou seu interesse por transtornos mentais e silêncio como defesa.

2. Mitologia grega – A história de Alceste, que se sacrifica em silêncio pelo marido e retorna da morte, foi uma grande inspiração. Michaelides usou esse mito como paralelo simbólico com Alicia, a personagem do livro.

3. Thrillers clássicos – Ele foi influenciado por Agatha Christie e Hitchcock, querendo criar uma trama com um final surpreendente e psicológico.

E no no Brasil, existiu uma paciente parecida com Alicia Berenson?

Não há registro público e documentado de um caso exatamente como o da personagem do livro, ou seja, uma mulher que mata o marido e fica completamente muda por anos, de forma seletiva e simbólica.
Mas casos de mutismo psicogênico (silêncio causado por trauma emocional) existem no Brasil, sim, embora raros, geralmente associados a abuso, traumas ou perdas profundas.

E no mundo, algum caso parecido?

Sim, há casos raros no mundo de pessoas que entram em mutismo seletivo após traumas profundos:

Pacientes que param de falar após assistirem a um crime violento ou sofrerem abuso.

Em contextos de guerra ou violência doméstica, algumas vítimas também entram em estado de "silêncio total" como mecanismo de defesa.

Mas, como no livro, um silêncio mantido por anos com total consciência e propósito simbólico é extremamente raro, embora psicologicamente é possível em teoria.

O que é mutismo psicogênico?

Mutismo psicogênico, também chamado de mutismo seletivo ou mutismo funcional, é um distúrbio psicológico raro em que a pessoa para de falar total ou parcialmente, não por problema físico, mas por causa de traumas emocionais profundos. A fala está fisicamente preservada, mas a mente bloqueia a comunicação como mecanismo de defesa.

Percebam: Um texto que li no Facebook e resolvi pesquisar sobre o mesmo , me levou ao conhecimento de um distúrbio psicológico que, atualmente, pessoas, inclusive crianças, de muitos países em guerra, muito provavelmente,  estão vivenciando. E até aquelas cujas suas famílias são deportadas, mais recentemente, até de forma, diria, desumana. E ainda por cima os que defendem isso.

Por tanto, a pesquisa me direcionou ao conhecimento de um distúrbio psicológico, "mutismo psicogênico" e a história de um livro que li, "A Paciente Silenciosa" de Alex Michaelides.

Um caso real no mundo 

Essa mesma pesquisa também me levou a um caso real e que também faz parte de outro livro, "Quando Nietzsche Chorou" do médico psiquiatra e autor, Irvin D. Yalom (que também li e até ouvi i audiobook desse livro). 

Caso real: Anna O., um dos primeiros e mais famosos casos de mutismo psicogênico

O caso mais célebre e clássico é o de Bertha Pappenheim, mais conhecida como Anna O., tratada no século XIX por Josef Breuer (mentor de Freud). Veja:

Quem era Anna O.? Era uma jovem da alta sociedade alemã, com inteligência viva e personalidade forte.

O que aconteceu? Após cuidar do pai doente até a morte, ela começou a apresentar sintomas histéricos: paralisias, convulsões, alucinações e, em certos momentos, períodos prolongados de silêncio absoluto, mesmo sendo capaz de falar.

Diagnóstico da época: Histérica (hoje se acredita que ela sofria de mutismo psicogênico e conversão).

Exemplo prático de transtorno de conversão:

Uma mulher presencia um acidente grave e, no dia seguinte, não consegue mais mover as pernas. Os exames mostram que não há lesão física ou neurológica. A causa é emocional. Nesse caso, ela pode ser diagnosticada com transtorno de conversão.

Na época,  no caso de Anna O., chamaram de histeria de conversão (termo hoje considerado antiquado e substituído por transtorno de conversão ou transtorno somatoforme funcional).

Importância histórica: Seu caso foi base para o surgimento da psicanálise, e é até hoje estudado como exemplo de como traumas emocionais podem se manifestar no corpo e na fala.

"Quando Nietzsche Chorou" — Ficção com personagens reais

O livro foi escrito por Irvin D. Yalom, um renomado psiquiatra e escritor americano, e é um romance histórico-filosófico, ou seja, mistura:

Personagens reais: como Friedrich Nietzsche, Josef Breuer, Sigmund Freud e até Bertha Pappenheim (Anna O.).

Fatos históricos reais: como a fama de Breuer como médico vienense e seu envolvimento com os primeiros estudos sobre histeria.

Ficção literária: o encontro entre Breuer e Nietzsche nunca aconteceu de verdade, e a proposta de uma "psicoterapia" entre eles é totalmente criada pelo autor.

Eu li esse livro e ouvi também o audiobook desse livro.

Quem foi Josef Breuer e por que é chamado de mentor de Freud?

Josef Breuer foi um médico vienense muito respeitado no século XIX.

Ele tratou Bertha Pappenheim (Anna O.), que apresentou sintomas misteriosos, como mutismo, paralisias e alucinações.

Breuer desenvolveu com ela uma técnica baseada na "talking cure" (cura pela fala), ou seja, os sintomas melhoravam quando ela conseguia falar sobre os traumas vividos.

Sigmund Freud, então jovem médico, adotou essas ideias de Breuer e a expandiu para criar a psicanálise. Por isso, Breuer é considerado o mentor ou precursor de Freud.

Mas mais tarde, os dois se afastaram, pois Freud insistia na origem sexual dos traumas, e Breuer discordava.

Um caso mais recente e real de mutismo psicogênico

Caso das crianças refugiadas na Suécia – Síndrome da resignação

Entre os anos 2000 e 2020, a Suécia registrou diversos casos de crianças refugiadas que, após receberem a notícia de que poderiam ser deportadas, entraram em um estado catatônico com mutismo completo. Os sintomas incluíam:

Parada total da fala.

Recusa de comida e bebida.

Imobilidade total (ficavam deitadas, sem responder a estímulos).

Olhar fixo, sem reação.

Esse quadro foi chamado de "Síndrome da resignação", e embora existam debates sobre sua natureza, muitos especialistas apontam que se trata de uma forma grave de mutismo psicogênico associado ao trauma extremo e ao medo da deportação.

O caso foi noticiado mundialmente e chamou atenção para os efeitos profundos do trauma psicológico em crianças, especialmente, que vivem em países em situações de guerra, migração forçada e incerteza quanto ao futuro.

Henrique Melo - Rede Sertão-PB

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