• Aqui a descrição do post ou da categoria
  • Aqui a descrição do post ou da categoria
  • Aqui a descrição do post ou da categoria
  • Aqui a descrição do post ou da categoria
  • Aqui a descrição do post ou da categoria
  • Aqui a descrição do post ou da categoria

O dia em que fiz um verdadeiro exorcismo tecnológico com um Disquete: Vírus, pânico e fogo, uma história cômica com o Norton Antivírus

Era o início dos anos 90, e a revolução dos computadores começava a deslumbrar o mundo, e também a mim, um jovem com sede de conhecimento e um forte desejo de aventura tecnológica. Nessa época, eu namorava uma moça da cidade de Patos, cidade próxima à minha, Santa Luzia (distante 42 km), ambas na Paraíba, e o pai dela, um comerciante que vendia móveis e eletrodomésticos, tinha adquirido um daqueles novos aparelhos mágicos: um computador. Sem internet, um dos únicos e principais softwares que ele possuía era o Word, mas isso era o suficiente para mim. Ah, o Word! Tão simples, mas era como uma máquina de sonhos, uma máquina de datilografia (eu sempre tive vontade de ter uma, coisa que nunca tive), sóque essa melho, digital. Ali, no escritório da loja, eu me sentava noite após noite, escrevendo textos, criando histórias e refletindo sobre a vida.

O namoro terminou, mas as memórias ficaram. A namorada viajou para o exterior, e o caso tornou-se uma daquelas lembranças pitorescas da juventude. Até que, um ano após o término do namoro, ela voltou de viagem. Um belo dia, ela encontrou uma pasta repleta dos textos que eu havia escrito. Por algum motivo misterioso e talvez até nostálgico, ela decidiu armazenar meus textos num disquete e me enviou de presente, por intermédio de um conhecido.

Lá estava ele, um disquete, aquele pequeno retângulo mágico com a capacidade de armazenar 1,44 megabytes. Mal sabia eu que aquele pequeno objeto guardava o que viria a ser uma experiência traumática e um episódio cômico na história da minha vida, bem como da minha família. Mais adiante vocês irão entender.

Ao receber o disquete, fiquei empolgado, mas também cauteloso. Eu havia ouvido histórias terríveis sobre vírus de computador, e como havíamos acabado de adquirir o nosso próprio computador, um modelo dos primórdios – um 286 ou 386, quem se lembra ao certo?! – foi um presente de meu tio, irmão de minha mãe, para ela, eu sabia que precisava protegê-lo. Com um respeitável Norton Antivírus instalado, eu me sentia como o próprio James Bond dos bits e bytes.

Ao colocar o disquete no drive, ativei o Norton, e logo a tela começou a exibir alertas: "Vírus detectado". O primeiro surgiu, e eu me assustei, mas continuei. O segundo apareceu, o terceiro, e assim foram surgindo, um atrás do outro. Eu estava pasmo! Foram mais de cinco, talvez oito. Minhas mãos suavam enquanto meus olhos cresciam com cada alerta. Eu só pensava em como aquele pequeno disquete podia conter tantas ameaças.

Foi então que entrei em pânico completo. Eu tinha ouvido rumores de que vírus de computador poderiam “contaminar” outras coisas ao redor. Na minha mente, aquele disquete estava quase radioativo, e a única solução era destruir o mal pela raiz.

Corri para o banheiro e vesti o que achei ser o traje perfeito para o extermínio: peguei um par de luvas cirúrgicas, óculos de proteção (que nem sei de onde arranjei na época), uma pinça, um frasco de álcool e uma caixa de fósforos. Quando minha mãe me viu vestido assim, com uma expressão de completo terror, perguntou o que estava acontecendo. Eu, com um tom sério e apocalíptico, sussurrei: "Mãe, o disquete está infectado com oito vírus. Saia de perto! Vá para o quarto e tranque a porta." Minha mãe arregalou os olhos e desapareceu em segundos, obediente ao meu pedido alarmante.

Segui para o quintal, disquete em pinça, álcool em mãos, e coloquei o pequeno retângulo num canto seguro. A solenidade do momento era tão forte que parecia que eu estava realizando um ritual de exorcismo. Respirei fundo, derramei álcool sobre o disquete e, com um gesto dramático, risquei o fósforo e o taquei. As chamas subiram, e a fumaça negra daquele pedaço de tecnologia contaminada subia lentamente, levando com ela o que eu acreditava ser os vírus mortais.

Mas não parou por aí. Se o disquete estava "infectado", o ambiente ao redor certamente também estava. Após o incêndio purificador, corri para dentro de casa e tomei um banho como se quisesse livrar-me de qualquer contaminação invisível. Minha mãe, assistindo ao meu frenesi, decidiu se juntar à limpeza apocalíptica. Ela também se banhou, e, aos poucos, o ritual de purificação atingiu cada membro da casa. Abrimos janelas, ventilamos os quartos e lavamos o piso. Toda a casa passou por uma desinfecção rigorosa.

Anos depois, ainda me pego rindo de tudo isso. Eu, que deveria entrar pra algum livro do tipo, "livro de recordes" ou " livro dos absurdos, como sendo a primeira pessoa a exorcizar um disquete, olho para trás e penso: que arquivos preciosos devem ter sido aqueles textos simples de um jovem apaixonado, perdidos nas cinzas da tecnologia. E até hoje, quando alguém me pergunta sobre vírus de computador, lembro desse episódio e de como um simples disquete me transformou no exorcista de bits mais desajeitado e cômico de Santa Luzia na Paraíba.

Henrique Melo - Rede Sertão PB

Postar um comentário

0 Comentários