No livro Pobres de Direita, o sociólogo Jessé Souza analisa o fenômeno de indivíduos de baixa renda que apoiam ideologias de direita que, aparentemente, não beneficiam seus interesses econômicos e sociais. No primeiro capítulo, intitulado "Nunca foi economia, tolinho!", Souza argumenta que essa adesão está mais relacionada a fatores culturais e à busca por reconhecimento social do que a questões econômicas. Ele sugere que muitos brasileiros pobres, historicamente marginalizados e vítimas de um racismo velado, adotam posições políticas alinhadas à elite na tentativa de serem aceitos e valorizados socialmente. Essa busca por pertencimento leva-os a apoiar agendas que, paradoxalmente, podem perpetuar sua própria condição de subserviência.
Essa dinâmica não se resume à ideia de que "tem pobre que melhorou de vida e se acha rico". De fato, há aqueles que ascendem financeiramente e passam a se enxergar como parte da elite, mesmo estando em uma posição frágil — vivendo na corda bamba, onde qualquer crise pode levá-los de volta à pobreza. No entanto, o mais preocupante é que essa postura não vem apenas de uma ilusão de status, mas de uma necessidade profunda de aceitação. Após uma vida de humilhações e exclusões, muitos buscam ser vistos com bons olhos, evitar olhares desconfiados e serem acolhidos nos círculos da classe média, que representa apenas 20% da população. Enquanto isso, a elite real, segundo Souza, é tão pequena que pode ser contada nos dedos.
O pobre de direita, nesse contexto, não apenas vota contra seus próprios interesses, mas se torna subserviente à classe dominante para garantir um lugar simbólico de pertencimento. Ele se molda às expectativas daqueles que historicamente o marginalizaram, trocando sua identidade de classe por migalhas de reconhecimento social. Assim, perpetua-se um ciclo de dominação no qual os próprios oprimidos sustentam a estrutura que os mantém em posição inferior.
Henrique Melo - Rede Sertão PB
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